A subnotificação da doença do Alzheimer no Brasil

O Diagnóstico de Alzheimer no Brasil: Desafios, direitos e cobertura dos planos de saúde

O diagnóstico de Alzheimer é uma realidade desafiadora e impactante para milhões de famílias no Brasil. Marcada pela perda progressiva de memória, demência e alterações comportamentais, a doença afeta a autonomia dos pacientes e impõe grandes desafios para familiares e cuidadores. Com maior incidência entre pessoas idosas, o Alzheimer requer um acompanhamento contínuo e o suporte adequado de profissionais de saúde, essenciais para promover a qualidade de vida dos afetados.

De acordo com o Relatório Nacional sobre a Demência, divulgado recentemente, cerca de 8,5% da população com 60 anos ou mais apresenta Alzheimer, totalizando aproximadamente 2,71 milhões de pessoas. As projeções indicam um crescimento substancial, com estimativas de que, até 2050, o número de casos chegue a 5,6 milhões. Esses dados ressaltam a importância de se ampliar o acesso a diagnósticos e tratamentos, além de informar as famílias sobre os direitos e coberturas disponíveis nos planos de saúde.

A subnotificação da doença de Alzheimer e seus impactos

A subnotificação da doença de Alzheimer no Brasil é um problema crítico, afetando a capacidade de resposta e tratamento eficazes para a população. Esse fenômeno ocorre quando casos de Alzheimer não são diagnosticados ou registrados oficialmente, dificultando a inclusão nos dados de saúde pública. A subnotificação resulta em estatísticas que não refletem a real dimensão do problema e impacta negativamente as políticas públicas de saúde.

O Ministério da Saúde identifica múltiplas causas para a subnotificação. Primeiramente, a falta de capacitação de alguns profissionais de saúde para reconhecer sintomas iniciais do Alzheimer pode levar a diagnósticos equivocados, interpretando sinais de demência como envelhecimento natural. Este problema é agravado pela falta de conhecimento da população sobre os sintomas da doença, que inclui não apenas a perda de memória, mas também alterações comportamentais e de personalidade, muitas vezes percebidas como “normais” na velhice.

O estigma social em torno da demência é outro fator que inibe o diagnóstico precoce. Muitos pacientes e familiares evitam procurar ajuda, receosos de discriminação e isolamento. Em diversas situações, os próprios familiares atribuem os sintomas a fatores comuns da idade, adiando a busca por atendimento médico especializado.

Além disso, o acesso desigual aos serviços de saúde no Brasil é um obstáculo adicional, especialmente em áreas rurais e regiões menos desenvolvidas, onde o número de especialistas em geriatria e neurologia é reduzido. Em áreas remotas, as consultas e exames necessários para o diagnóstico podem demorar meses, privando os pacientes do tratamento adequado. A consequência dessa realidade é alarmante: estima-se que até 80% dos casos de Alzheimer no país não sejam devidamente notificados, privando milhares de pessoas de tratamento e suporte.

Direitos e proteções legais dos pacientes com Alzheimer

Diante dessa realidade, a Lei nº 14.878/2024, que instituiu a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências, trouxe diretrizes importantes para fortalecer a rede de atendimento e garantir cuidados de qualidade aos pacientes. Essa lei promove a capacitação de profissionais de saúde para identificar sintomas iniciais da demência, reforça o desenvolvimento de programas de apoio e assegura que pacientes e cuidadores recebam orientações adequadas.

Os planos de saúde no Brasil, regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), são obrigados a cobrir diversos tratamentos e serviços para pacientes com Alzheimer. Essas coberturas incluem consultas com neurologistas, psiquiatras e geriatras, além de exames como ressonância magnética e tomografia, essenciais para o diagnóstico e monitoramento da doença. Os planos de saúde também devem cobrir terapias complementares e medicamentos prescritos para o tratamento de sintomas, conforme estabelecido no rol da ANS.

Essa rede de proteção legal visa garantir que os pacientes tenham acesso a um tratamento contínuo e integrado. Entretanto, é importante que os familiares estejam bem informados sobre as coberturas de seus planos de saúde, pois podem existir especificações, carências ou limites que restrinjam o acesso a determinados tratamentos. Em caso de negativa por parte do plano de saúde, os pacientes e suas famílias podem buscar apoio jurídico para reivindicar seus direitos.

A importância de conhecer os direitos e de buscar suporte jurídico

A conscientização sobre os direitos e as coberturas disponíveis nos planos de saúde é fundamental para que os familiares possam utilizar os serviços de maneira eficaz e garantir uma melhor qualidade de vida para os pacientes. A Lei nº 14.878/2024, em conjunto com as regulamentações da ANS, configura uma rede de suporte para os portadores de Alzheimer, mas a aplicação prática desses direitos pode encontrar entraves. Situações como negativas de cobertura para exames ou terapias são comuns e podem ser questionadas judicialmente.

Para enfrentar eventuais obstáculos impostos pelos planos de saúde, é altamente recomendável que os familiares procurem a assessoria de um advogado especializado em Direito da Saúde. Um advogado pode ajudar a esclarecer dúvidas sobre direitos específicos e apoiar as famílias em ações que confrontem negativas de cobertura. Esse suporte jurídico é essencial, especialmente em casos em que o plano de saúde se recusa a cobrir tratamentos importantes para o bem-estar do paciente.

A jornada do cuidado e o papel da conscientização

Para além das questões legais, é crucial que as famílias e os próprios pacientes tenham acesso a informações sobre a doença, seus sintomas e possibilidades de tratamento. A conscientização sobre o Alzheimer e a desmistificação do diagnóstico são passos fundamentais para reduzir o estigma e garantir que mais pessoas busquem ajuda desde os primeiros sinais. Programas educativos e campanhas de saúde pública podem desempenhar um papel importante nesse sentido, informando a população sobre o Alzheimer e incentivando o diagnóstico precoce.

O Alzheimer é uma doença que afeta não só o paciente, mas também todos ao seu redor. A jornada de cuidado exige dedicação, paciência e, sobretudo, acesso a informações e suporte adequados. Ao conhecer seus direitos e as coberturas disponíveis, as famílias podem enfrentar esse desafio com mais segurança e amparo. O apoio jurídico, quando necessário, é um recurso valioso para garantir que os pacientes recebam o tratamento que merecem, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.

Artigo escrito por Paula de Maragno, Sócia Fundadora da Maragno Advogados.

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