Essa semana fui procurada por um homem querendo deixar o quadro social de uma empresa que tem com seu irmão.
Jovem, bem-sucedido e cheio de perguntas. Um caso complexo, envolvendo anos de trabalho e dedicação, um patrimônio valioso e uma empresa há bastante tempo no mercado. Na relação entre eles, ficava evidente a divergência de valores e objetivos. As brigas eram constantes e começavam a impactar outros integrantes da família.
Ele fez questão que a reunião fosse presencial. Eu gosto. Me conecto com as pessoas. Sinto seus problemas, suas angústias, seus dilemas.
A reunião, prevista para durar uma hora, bateu quase três… entre perguntas e respostas me veio a nítida percepção de que ele não estava certo em relação à sua decisão de sair da sociedade: estava perdido… sem orientação… cheio de dúvidas e cobranças… ansioso por não conseguir definir “o futuro da empresa” e o seu próprio futuro, o que é muito comum nessas situações…
Conversamos longamente… passei todas as orientações necessárias (jurídicas, financeiras e societárias) o que me tomou, no máximo, 40 minutos… Sim! O resto da conversa foi pautado em autoconhecimento, auto engano, percepção de si próprio e amor-próprio… muito amor-próprio!
Ao final da reunião, depois de muito choro da parte dele e alguns relatos pessoais meus, nos abraçamos. Abraçamos-nos com muito carinho e respeito. Respeito profundo à sua história, suas vitórias, suas derrotas, suas angústias!
Pedi a ele que desse um passo atrás… que recuasse e repensasse a sua decisão de romper a sociedade e os laços com o irmão, pois não havia convicção em suas palavras… não havia certeza…
Brinquei que, quando estamos “na neblina” temos que “pisar no freio” e olhar para dentro, livre de influências de terceiros… “Ninguém acelera na neblina!”, brinquei. Então pedi isso a ele… que prontamente me prometeu que iria “fazer a sua lição de casa’’…
Saí da reunião aliviada, certa de que não necessariamente iria pegar o caso… mas feliz por ter a certeza de que fiz o meu melhor por aquela empresa e por aquele “irmão”…
Liguei para o meu marido e contei a história… Me emocionei. Parece uma bobagem, mas me senti muito perto da minha missão de vida: orientar com acolhimento e humanidade.
Quando abri meu escritório, há quase 23 anos atrás, eu já falava em Direito Humanizado, quando ninguém falava nem mesmo em medicina humanizada… fui motivo de chacota… de piada… amigos mais próximos me diziam: “Mas isso toma muito tempo. Você não vai ganhar dinheiro assim!”
E eu resisti. E lá se foram quase 23 anos de Maragno Advogados…
Mudei o mundo? Não! Nem tenho essa pretensão… Mas, com certeza, fiz a diferença na vida de algumas pessoas… E isso é o que me basta e o que me mantém feliz na minha profissão!