A proposta de extinção da escala de trabalho 6X1 no Brasil tem gerado um intenso debate entre o poder público, trabalhadores, empregadores e especialistas em legislação trabalhista. A escala 6X1, que exige que os trabalhadores atuem por seis dias consecutivos com um dia de descanso semanal, é uma prática comum em diversos setores.
A nova proposta sugere a substituição desse regime por uma jornada de trabalho de quatro dias por semana, totalizando 36 horas semanais, com três dias de folga, uma iniciativa para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e alinhar o Brasil com tendências globais de redução da jornada de trabalho.
Neste artigo, exploraremos as diferentes perspectivas sobre essa polêmica proposta e as repercussões que ela tem gerado no mercado de trabalho brasileiro.
Os argumentos contra a escala 6×1
A defesa da necessidade de revisar a escala 6×1 perpassa pelo impacto negativo que ela tem sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Um estudo que está sendo largamente citado neste debate é da International Stress Management Association (Isma-BR), de 2021, que destaca o Brasil como o segundo país com mais casos de burnout – uma condição de exaustão física, emocional e mental – em todo o mundo. De acordo com a BBC News Brasil, em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout, o maior índice dos últimos dez anos no país.
De fato, sabemos que o esgotamento físico e mental é o principal argumento para a proposta. O quadro de esgotamento acarreta diversos problemas, comprometendo a qualidade de vida dos trabalhadores e impactando negativamente seu bem-estar geral e desempenho profissional.
No ambiente laboral, trabalhadores exaustos tendem a ser menos produtivos e mais propensos a cometer erros, o que pode afetar a eficiência e a qualidade do trabalho.
As propostas de alteração da escala 6×1
Atualmente, existem várias propostas em discussão para alterar a escala de trabalho 6×1 no Brasil, com a finalidade de alcançar o equilíbrio tempo de trabalho versus descanso. Aqui estão algumas das principais:
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Deputada Erika Hilton: Visa acabar com a escala 6×1 e introduzir uma escala 4×3, onde os trabalhadores teriam quatro dias de trabalho e três dias de descanso, sem redução de salário;
Projeto de Lei (PL) nº. 1.105/2023: Busca incluir na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a possibilidade de redução das horas trabalhadas diárias ou semanais, mediante acordo ou convenção coletiva, sem perda de remuneração. A ideia é permitir que o mercado se ajuste às novas tendências de trabalho;
PEC 221/19: Pretende reduzir de 44 para 36 horas a jornada semanal do trabalhador brasileiro, em um prazo de dez anos para se concretizar.
Projeto de Resolução do Senado (PRS) 15/2024, da Senadora Soraya Thronicke: tem por objetivo incentivar boas práticas no ambiente de trabalho, como a diminuição da carga horária sem perda salarial. Ele propõe a criação do “Diploma Empresa Ideal”, uma premiação anual para empresas que adotem essas práticas.
O que diz a CLT sobre a escala 6×1
A escala 6×1 é uma prática comum em muitos setores, como comércio e indústria, onde os trabalhadores trabalham seis dias consecutivos e têm um dia de descanso.
A CLT não menciona especificamente esse tipo de escala de trabalho. No entanto, ela estabelece diretrizes gerais sobre a jornada de trabalho e o descanso semanal. De acordo com as leis trabalhistas, a jornada de trabalho não pode exceder 8 horas diárias, sendo 44 horas o limite da jornada de trabalho semanal.
A legislação também garante um descanso semanal remunerado de, pelo menos, 24 horas consecutivas, preferencialmente aos domingos.
O posicionamento do governo em relação a essas mudanças na legislação trabalhista
Em relação às propostas específicas para alterar a escala 6×1, o governo ainda não tomou uma posição oficial. A discussão está mais centrada no Congresso Nacional, onde as diferentes propostas estão sendo analisadas e debatidas. Apesar disso, o governo tem mostrado interesse em modernizar e flexibilizar as leis trabalhistas, a exemplo da reforma trabalhista de 2017.
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apoia o debate sobre a proposta de extinção da escala de trabalho 6×1, mas acredita que essa questão deve ser tratada em convenções e acordos coletivos entre empresas e empregados. A proposta, que visa reduzir a jornada de trabalho para 36 horas semanais, é vista como viável pelo MTE, desde que haja uma decisão coletiva e o envolvimento de todos os setores.
Impactos e oportunidades na segurança jurídica
A reforma tem implicações diretas na segurança jurídica das relações de trabalho. A mudança na jornada de trabalho pode trazer mais clareza e previsibilidade para empregadores e empregados, reduzindo a litigiosidade relacionada ao controle de jornada e horas extras. Mas, para isso, é imprescindível que a transição para o novo regime, se de fato acontecer, seja bem planejada para evitar inseguranças jurídicas durante o período de adaptação.
Além disso, a adoção de tecnologias digitais pode facilitar a implementação da nova jornada de trabalho para gestão do tempo e da produtividade.
Automatizar fortemente o monitoramento da nova realidade dentro das organizações não só irá melhorar a conformidade com a legislação, mas também aumentará a transparência e a confiança entre empregadores e empregados.
Os principais desafios para os empregadores na prática
Embora a mudança tenha o potencial de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e aumentar a produtividade, os empregadores precisarão enfrentar e superar várias dificuldades para se adaptarem a esse novo regime.
Com a nova jornada de trabalho, mudanças na gestão de recursos humanos também estarão por vir. Os empregadores precisarão revisar e possivelmente renegociar contratos de trabalho, ajustar políticas internas e garantir que todos os funcionários estejam cientes e preparados para a mudança.
A transição para uma jornada de quatro dias por semana exigirá uma reestruturação significativa das operações empresariais. Empresas que operam em setores que demandam funcionamento contínuo, como manufatura, saúde e serviços essenciais, precisarão encontrar maneiras de manter a produtividade e a eficiência com uma força de trabalho reduzida em determinados dias da semana.
Talvez os maiores desafios sejam garantir que a produtividade não seja afetada negativamente e que os colaboradores se mantenham atualizados com as novas regulamentações para a conformidade legal. Afinal, a falta de conformidade pode resultar em litígios e penalidades.
Sem dúvida alguma, os empregadores poderão enfrentar um aumento nos custos operacionais com a redução da jornada de trabalho. A necessidade de contratar trabalhadores adicionais para cobrir os dias de folga ou investir em tecnologias para manter a eficiência pode representar um desafio financeiro relevante, especialmente para pequenas e médias empresas.
Diante da complexidade e das implicações legais envolvidas na discussão sobre a escala de trabalho 6×1, é essencial que trabalhadores e empregadores consultem um profissional especialista em Direito do Trabalho. Esse profissional pode fornecer orientações precisas sobre os direitos e deveres de ambas as partes, além de ajudar a interpretar as mudanças propostas na legislação.
Além disso, um advogado especializado pode auxiliar na negociação de acordos coletivos e na adaptação das empresas às novas normas, caso a PEC ou outras propostas sejam aprovadas. Lembre-se: com planejamento cuidadoso e estratégias inovadoras, os empregadores podem superar esses desafios e aproveitar as oportunidades oferecidas por essa nova abordagem ao trabalho.
Artigo escrito por Paula de Maragno, Sócia Fundadora da Maragno Advogados.
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